O património está geralmente ausente das preocupações das pessoas.
É, quase sempre, visto como obstáculo a um certo padrão de desenvolvimento que destrói para construir em larga escala, numa perspectiva de lucro.
È também, segundo alguns, assunto para "entreter" cientistas no meio académico ou gente desocupada que se organiza em associações de índole proteccionista e reivindicativa, mas que não concretiza nada de útil para a comunidade.
Atingir esse objectivo é de facto difícil. Há muitas variáveis e muitos interesses em jogo, entre os quais não é de menor importância o desinteresse ou falta de informação das populações assim como a desconfiança relativamente às intenções dos que se dedicam graciosamente a estas causas, muitas vezes com sacrifício pessoal.
Mas o património não é só o palácio, a igreja, o monumento, o objecto visível; pode também não ter objecto, propriamente dito. E aqui inclui-se a expressão de práticas culturais que se vão imaterializando e ficando na memória, substituídas por outras que a evolução da sociedade vai impondo.
Para que o património permaneça como matriz da História dos povo e a memória não se esfume no Tempo, é preciso guardá-lo e dá-lo a conhecer.
É essa a função das instituições ___ Museus, Escolas, Universidades, Bibliotecas…
E é também obrigação dos cidadãos, individualmente ou em conjunto, nas Associações de Defesa do Património e nas instâncias de decisão em que tenham assento, como sejam os organismos autárquicos, por exemplo.
A HERANÇA NAZARENA NO MUSEU DR. JOAQUIM MANSO.
Como guardador de segredos ou baú de tesouros, o Museu conserva a herança que recebemos dos que nos antecederam.
Objectos que foram usados e são expressão de vivências autênticas de um quotidiano distante, que se foi alterando e que agora vive na memória de uns poucos, mas que persiste no registo dos artistas que a ele foram sensíveis ou que com ele se identificaram.
Encontramos em alguns dos artistas que viveram a Nazaré do passado, numa atitude de verdadeira identificação com o povo, o registo neo-realista, mais ou menos integrado em correntes modernistas, de cenas do labor da população piscatória e da dureza das suas condições de vida, que estão em grande medida na génese da herança patrimonial que ficou.Mas também faz parte dessa herança,a dimensão religiosa e quase mística da cultura nazarena tão intimamente ligada a um certo dramatismo inerente às vicissitudes da sua existência, permanentemente em risco, assim como a dimensão etnográfica do seu quotidiano, inscritas na obra de outros, de forma mais ou menos erudita.
Os artistas, cujas obras o Museu Dr.Joaquim Manso tem à sua guarda, viveram na primeira pessoa a realidade que enforma hoje o nosso património cultural e a substância desta nossa herança, à espera de ser descoberta.
Maria Cecília Louraço
Sede
R. Dr. Rui Rosa, 6A (loja) 2450-209 Nazaré
contacto: liganazare@gmail.com
Sem comentários:
Enviar um comentário