Diz-se que, no lugar da estação da Rodoviária Nacional na Avenida Vieira Guimarães ,vai nascer mais uma grande superfície comercial, um conjunto de blocos de apartamentos e lugares de estacionamento.
A Liga dos Amigos da Nazaré, considerando este edifício de interesse patrimonial, da autoria do arquitecto leiriense Korrodi, cuja assinatura está inscrita na sua fachada,enviou há algum tempo uma carta à empresa, no sentido de alertar para o estado de degradação do referido espaço.
Sendo um edifício de características marcantes da época em que foi construído,como há poucos na Nazaré, é de lamentar se o eventual projecto em curso não preservar, pelo menos, a sua fachada de linhas simples mas funcionais, sobretudo no espaço que penso ter sido originalmente projectado como a sala de espera.
Tão importante como a renovação urbanística da Nazaré é a preservação dos exemplares que marcaram um estilo e uma época.
É urgente pois,alertar os responsaveis mas, sobretudo, os nazarenos para que defendam tudo o que pode ajudar a criar uma identidade, preservando os edifícios que acompanharam a história da Nazaré e lhe deram a feição que a fez ser apreciada como destino turístico.
Sede
R. Dr. Rui Rosa, 6A (loja) 2450-209 Nazaré
contacto: liganazare@gmail.com
quarta-feira, 5 de janeiro de 2011
terça-feira, 4 de janeiro de 2011
Património esquecido
O dia estava morno, para uma tarde de Janeiro, convidativo para um passeio pelos caminhos velhos, como dizia José Afonso,da velha Pederneira. Sem rumo definido, assomei ao lugar aonde em criança brincava - a duna de areia fina colonizada por "tramagueiras", nome pelo qual se designavam os arbustos, quase pequenas árvores, que tinham enraizado naquela espinha de areia, suportando o declive por onde rebolávamos em divertida algazarra.
Era o caminho que levava à fontinha, bica de água que brotava da parede adossada a um terreno adjacente, canalizada para um tanque baixo e largo, com duas pedras laterais aonde as mulheres esfregavam a roupa que iam lá lavar. Para se chegar à fontinha seguia-se por um caminho sinuoso e estreito, bordejado de denso canavial e campos de leiras onde cresciam os legumes que iriam abastecer o mercado.
O lugar ainda lá está, em parte intacto, à excepção da duna que foi arrasada para construção de vivendas. O caminho de areia é agora uma estrada de alcatrão que termina no final da fila de casas, juntinho ao pinhal.
Contrastando com as casas novas, permanece ainda do lado esquerdo da estrada um conjunto de construção precária com vestígios das barracas aonde moravam famílias de parcos recursos.A estrada segue ao longo de terrenos incultos,apesar do poço promissor de água abundante.Ao fundo uma casa simples, sem os detalhes decorativos que atestam a mudança na escala social dos donos das casa vizinhas.No campo que parece em pousio forçado, ainda vagueia um grupo de ovelhas,em busca da erva que nasce espontaneamente.
Virando á esquerda,a caminho do local aonde existia a fonte, como que regressamos aos tempos antigos, em que rebolávamos nas areias da duna e apanhávamos figos nas figueiras das hortas
Apesar das mudanças, ainda persiste uma sebe de canas que nos acompanha até à fontinha,agora encoberta pelo aterro que refez o caminho original.O tanque está totalmente coberto por barrotes húmidos a apodrecer entre restos de ramos caídos das árvores.É agora um buraco abaixo do nível do caminho,feito de restos de materiais de construção, que segue para o lado do Monte de S. Brás. Suportando o muro do terreno aonde foi construída uma casa, uma parede de cimento com lápide gravada,recordando a data da construção da fonte, para benefício da população, segundo o texto, se tivesse sido acautelada a sua preservação
Contudo, do outro lado do caminho e junto às casa velhas, vicejava uma horta tradicional.Um poço armazenava a água verde,coberta de limos;ao centro as leiras de couve portuguesa e, em volta,parcelas de terra tratada, aguardando o tempo certo para o brotar das sementes.Ao fundo, construções improvisadas de materiais recuperados que servem de abrigo a animais e local de recolha de alfaias.Tudo num equilíbrio que parece precário e desorganizado, mas,certamente ainda eficaz à sua maneira.
Esta é uma parcela da história social da Pederneira que está em via de extinção e é desconhecida de grande parte da população actual da Nazaré.
A pergunta que urge fazer é: como preservar esta memória da horta tradicional de apoio à casa e da actividade agrícolas das gentes da Pederneira, como ainda se pode ver nos campos da Subvila,agora alvo do interesse de indústria da construção?.
Difícil será impor uma solução que passe pela criação, in loco, de um ecomuseu, devido aos interesse financeiros e à falta de capacidade e motivação dos responsáveis da administração autárquica. Mas é sempre possível criar um espaço de memória desta componente agrária do património cultural nazareno.As gentes da pederneira estão sensíveis à criação de um espaço em que a sua tradição de vida seja guardada e mostrada aos mais novos,só precisam de algum apoio de quem o puder dar.
Era o caminho que levava à fontinha, bica de água que brotava da parede adossada a um terreno adjacente, canalizada para um tanque baixo e largo, com duas pedras laterais aonde as mulheres esfregavam a roupa que iam lá lavar. Para se chegar à fontinha seguia-se por um caminho sinuoso e estreito, bordejado de denso canavial e campos de leiras onde cresciam os legumes que iriam abastecer o mercado.
O lugar ainda lá está, em parte intacto, à excepção da duna que foi arrasada para construção de vivendas. O caminho de areia é agora uma estrada de alcatrão que termina no final da fila de casas, juntinho ao pinhal.
Contrastando com as casas novas, permanece ainda do lado esquerdo da estrada um conjunto de construção precária com vestígios das barracas aonde moravam famílias de parcos recursos.A estrada segue ao longo de terrenos incultos,apesar do poço promissor de água abundante.Ao fundo uma casa simples, sem os detalhes decorativos que atestam a mudança na escala social dos donos das casa vizinhas.No campo que parece em pousio forçado, ainda vagueia um grupo de ovelhas,em busca da erva que nasce espontaneamente.
Virando á esquerda,a caminho do local aonde existia a fonte, como que regressamos aos tempos antigos, em que rebolávamos nas areias da duna e apanhávamos figos nas figueiras das hortas
Apesar das mudanças, ainda persiste uma sebe de canas que nos acompanha até à fontinha,agora encoberta pelo aterro que refez o caminho original.O tanque está totalmente coberto por barrotes húmidos a apodrecer entre restos de ramos caídos das árvores.É agora um buraco abaixo do nível do caminho,feito de restos de materiais de construção, que segue para o lado do Monte de S. Brás. Suportando o muro do terreno aonde foi construída uma casa, uma parede de cimento com lápide gravada,recordando a data da construção da fonte, para benefício da população, segundo o texto, se tivesse sido acautelada a sua preservação
Contudo, do outro lado do caminho e junto às casa velhas, vicejava uma horta tradicional.Um poço armazenava a água verde,coberta de limos;ao centro as leiras de couve portuguesa e, em volta,parcelas de terra tratada, aguardando o tempo certo para o brotar das sementes.Ao fundo, construções improvisadas de materiais recuperados que servem de abrigo a animais e local de recolha de alfaias.Tudo num equilíbrio que parece precário e desorganizado, mas,certamente ainda eficaz à sua maneira.
Esta é uma parcela da história social da Pederneira que está em via de extinção e é desconhecida de grande parte da população actual da Nazaré.
A pergunta que urge fazer é: como preservar esta memória da horta tradicional de apoio à casa e da actividade agrícolas das gentes da Pederneira, como ainda se pode ver nos campos da Subvila,agora alvo do interesse de indústria da construção?.
Difícil será impor uma solução que passe pela criação, in loco, de um ecomuseu, devido aos interesse financeiros e à falta de capacidade e motivação dos responsáveis da administração autárquica. Mas é sempre possível criar um espaço de memória desta componente agrária do património cultural nazareno.As gentes da pederneira estão sensíveis à criação de um espaço em que a sua tradição de vida seja guardada e mostrada aos mais novos,só precisam de algum apoio de quem o puder dar.
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